Conheça mais sobre os plásticos, produtos que demoram aproximadamente 400 anos para degradar
*Ophelis de A. Françoso Jr
Falar em sustentabilidade invoca mudanças de comportamento. O caminho para um planeta perene passa por decisões, ações e atitudes de todos os humanos viventes. Lembremos do significado da palavra ecologia (do grego oikos: casa). Sustentabilidade significa, então, preservarmos a nossa casa que pode ser compreendida como residência, rua, bairro, cidade, país e até o próprio planeta. Assim não há limites geográficos para praticar e cobrar atos preservacionistas. Conservar o planeta significa unir esforços da comunidade em torno de causas ambientais. Por isso a conservação e a sustentabilidade ambientais decorrem de atos políticos.
Muitos programas de governo podem facilitar o processo conservacionista. Entretanto as ações que preservam o meio ambiente são tomadas a partir da mobilização de várias instâncias das comunidades. Por exemplo, embora diversas prefeituras recolham o lixo reciclável com relativa regularidade, os moradores devem colaborar separando esses dos resíduos orgânicos desde sua origem.
400 anos para degradar
De especial importância são os resíduos plásticos oriundos de garrafas de politereftalato de etileno, conhecidas popularmente como pets. Elas demoram aproximadamente 400 anos para degradar. Um milhão de garrafas plásticas são compradas em todo o mundo a cada minuto, criando uma crise ambiental tão séria e veloz quanto as mudanças climáticas. Os esforços para coleta-las e recicla-las antes que atinjam os ambientes naturais estão sendo claramente insuficientes. Ao chegar nos mares e oceanos por exemplo, grande parte desses artefatos plásticos enganam os habitantes marinhos fazendo-os pensar que se trata de alimento. Assim muitos animais morrem devido à obstrução de seus tratos digestórios por garrafas pets e seus pedaços com seríssimos impactos sobre a cadeia alimentar marinha.

As garrafas pets estão se tornando altamente significativas na composição da massa de resíduos sólidos produzidos. Estima-se que um consumidor médio utiliza 166 delas a cada ano e que 2,5 milhões são descartadas a cada hora. À parte das conveniências que oferecem, as pets também criam resíduos perigosos nos aterros sanitários.
Em 2016, menos da metade das garrafas plásticas descartadas foram destinadas à reciclagem e apenas 7% das dessas foram de fato transformadas em novas. A maioria acabou jogada nos diversos ambientes, em aterros ou nos oceanos.
Reduzindo os impactos dos plásticos
Para minimizar o problema podemos criar uma corrente com base na economia de garrafas por reutilização. Uma garrafa reutilizada reduz em 15% as emissões de gases de efeito estufa e a consequente velocidade de esgotamento dos recursos energéticos necessários para sua manufatura. A reutilização de uma pet também pode incrementar significativamente sua vida útil em mais de cinco vezes.
Tanto o fornecedor como o usuário da pet são beneficiados pelo processo de reutilização, fazendo com que os benefícios sejam gerados em dobro. A cadeia fornecedora (fabricante, comerciante e consumidor), que seleciona e disponibiliza os objetos para coleta e triagem, e o participante que reutiliza a pet para um novo destino. A reutilização beneficia o sistema em geral e reduz o impacto ambiental das garrafas de acordo com o seguinte esquema:
Produto A > matéria prima > manufatura > uso > pet descartada
Produto B > pet descartada > manufatura > uso > final da vida útil
Portanto, ao reciclar garrafas plásticas, podemos contribuir positivamente de várias maneiras para reduzir seus impactos no ambiente.
Redução de resíduos
Por sua natureza, o espaço limitado dos aterros demanda materiais que possam ser degradados em um intervalo mais curto possível. Nesse contexto, a reutilização das pets economiza um espaço precioso nos aterros que pode ser usado para outros resíduos de natureza orgânica, principalmente os de decomposição relativamente mais rápida. Estima-se que, para cada tonelada de plástico reutilizado, são economizados quase 7 m3 de aterro. Além disso, a reutilização ou reciclagem também pode ajudar a reduzir o número de garrafas plásticas que acabam contaminando as estradas e os corpos de água como explicado acima no caso da vida marinha.
Economia de recursos materiais
A reutilização das pets e plásticos conserva os recursos naturais, especificamente o petróleo, não renovável. Cada tonelada de pet reutilizada evita o gasto de aproximadamente 3,8 barris de petróleo bruto. Embora pouco, em 2008 foram economizados via reciclagem de pets o equivalente a cerca de 7,6 milhões de barris de petróleo.
Economia de energia
Criar novos materiais a partir dos já existentes consome bem menos energia do que utilizar matérias primas. A reciclagem de apenas meio quilo de pet, economiza aproximadamente 3,5 kWh, a mesma quantidade de energia usada por um chuveiro ligado durante uma hora. Note-se que a reutilização consome cerca de dois terços menos energia do que a manufatura tradicional, reduzindo significativamente a pressão sobre a rede elétrica já saturada.
Redução nas emissões de gases de efeito estufa

A fabricação de plásticos resulta na criação de gases de efeito estufa, incluindo o dióxido de carbono, que contribui decisivamente para o aquecimento global. Como o processo de reciclagem requer menos energia e combustíveis fósseis, também resulta em redução das emissões desses gases. Estima-se que uma família média pode reduzir suas emissões de dióxido de carbono em até 154 kg/ano, simplesmente reciclando seus resíduos plásticos.
Redução na poluição atmosférica
Além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a reciclagem também reduz a poluição no ar e nas fontes de água. Para economizar espaço, muitos aterros incineram resíduos que liberam poluentes tóxicos ou substâncias irritantes no ar. A resina plástica usada para fazer pets também contém substâncias químicas potencialmente nocivas. A longo prazo elas se infiltram no solo, atingindo as águas subterrâneas.

para o plantio de hortaliças
O que podemos fazer, individualmente, para contribuir com a solução do problema? Uma série de ações interligadas pode ser adotada para mitigar os problemas decorrentes de garrafas pets de uso único.
1. Reduza a dependência de plásticos de uso único. Existem alternativas para sacolas plásticas e garrafas pets. No entanto, elas não emplacaram por falta de informação, sonegada pelos poderosos interesses comerciais da indústria do setor, que incentiva nossa dependência desse material. Os governos e cidadãos interessados podem trabalhar no sentido da reutilização. Torne-se um multiplicador nas campanhas de conscientização contra os plásticos de uso único.
2. Acostume-se a usar sacolas perenes, ao invés de usar sacolas plásticas descartáveis.
3. Procure produtos como garrafas de plástico biodegradáveis (bioplásticos) como alternativa aos plásticos convencionais. O plástico biodegradável (ou compostável) é projetado para ser decomposto por bactérias que o converte em materiais inofensivos ao ambiente. Esses chamados de bioplásticos são fabricados a partir de recursos renováveis como óleo vegetal ou amido, além de não exigir aditivos tóxicos. Muitos sacos plásticos para lixo já são biodegradáveis.
4. Procure materiais e artefatos fabricados a partir de pets reutilizadas, como vasos e materiais para decoração e jardinagem. Mesmo que você não consiga manufatura-los existem empresas que vendem esses produtos com evidentes benefícios ambientais, estéticos e alimentares (no caso de hortas e fruticultura verticais, por exemplo).
Uma vez que o uso de plástico de uso único se tornou tão integrado à nossa cultura, a opção de um corte abrupto é uma tarefa bastante árdua. Os debates sobre a rentabilidade dos plásticos versus as alternativas disponíveis podem não ser simples. Esse enorme desafio há que ser encarado de frente pois não temos muito tempo. O futuro próximo da Terra sugere uma UTI de escala planetária com poucas chances de sobrevivência para a espécie humana.
*Ophelis de A. Françoso Jr
Biólogo, mestre em Zoologia e doutor em Fisiologia pelo Instituto de Biociências da USP. Ex-bolsista Capes (Ministério da Educação) na Universidade da Califórnia Santa Bárbara. Ex-professor da Universidade Mackenzie, da Universidade de Garulhos, da Universidade Santo Amaro e da Fundação Instituto de Ensino para Osasco. Editor Executivo, autor de textos em diversas obras de Biologia para Ensino Médio e tradutor.