Concentrações dos gases de efeito estufa contribuem para o aquecimento adicional da Terra além dos limites toleráveis
*Ophelis de A. Françoso Jr
O efeito estufa, que provoca o chamado aquecimento global, é um processo natural que aumenta gradualmente a temperatura na superfície da Terra. Ao atingir a atmosfera parte da energia solar é refletida de volta para o espaço. O restante é absorvido pelos gases que emitem essa energia sob forma de calor, ocasionando um incremento da temperatura. Uma analogia clássica é a que vivenciamos ao entrar em um veículo com vidros e portas trancados, após ele ter ficado algum tempo exposto ao Sol. A temperatura fica quase insuportável, obrigando-nos a abrir os vidros para permitir a circulação do ar aquecido e o consequente resfriamento. Nesse caso, os vidros do veículo fazem o papel da atmosfera terrestre que, em um primeiro momento, permite a passagem da energia radiante do sol e depois impede a saída do ar aquecido.
Os gases que ocasionam o efeito estufa incluem: vapor de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, ozônio e alguns produtos químicos artificiais, como os clorofluorcarbonos (CFCs).
O efeito estufa é fundamental para a vida na Terra, elevando as temperaturas em cerca de 33 ⁰C a mais do que seria, permitindo assim que a vida exista e viceje.

O problema é que as atividades humanas – em particular a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), a agricultura intensiva e o desmatamento – aumentam as concentrações dos gases de efeito estufa, o que contribui para o aquecimento adicional da Terra além dos limites toleráveis.
Consequências do efeito estufa
As populações de vários continentes já estão vivenciando os impactos das mudanças climáticas, particularmente aquelas associadas ao aumento da temperatura, à frequência e intensidade de ondas de calor e secas, que geram condições favoráveis a vastos incêndios florestais. As observações científicas dos eventos climáticos do passado e do presente, bem como complexos modelos matemáticos que permitem projeções futuras, indicam que as mudanças em curso no planeta não podem ser explicadas somente por causas naturais. Vejamos algumas mudanças fundamentais devido ao efeito estufa.
Aumento na temperatura global
As temperaturas do ar aumentaram globalmente em cerca de 1,1 ⁰C desde 1880. A partir desse período foram deixados registros meteorológicos suficientemente confiáveis para realizar inferências globais. Os dados compilados de diversos países indicam que o período de aquecimento mais intenso ocorreu de 1970 até o presente, tanto nos oceanos como em terra firme. Desde 1950, cada década tem sido mais quente do que a anterior. O ano de 2016 por exemplo, foi o mais quente já vivenciado no planeta desde o século XIX.
A duração, a frequência e a intensidade das ondas de calor (três ou mais dias de altas temperaturas incomuns para um dado local) aumentaram em grandes áreas dos Estados Unidos, do Canadá, da Europa e da Austrália. Sete dos dez anos mais quentes do mundo ocorreram desde 2005.

Efeito estufa sobre os oceanos e a vida marinha
Um dos indicadores mais fortes das mudanças climáticas é a quantidade de calor armazenado nos oceanos, que aumentou significativamente durante as últimas décadas. Essa energia é responsável por mais de 90% do calor total retido pelos gases de efeito estufa, especialmente nas profundidades superficiais dos oceanos. Com base nas tábuas das marés, nas considerações do clima passado e em dados de satélites, são claras as evidências de que os níveis dos oceanos aumentaram 19 cm desde o início do século XX, como resultado das mudanças climáticas.
A tendência de aquecimento ocorre principalmente associada a eventos El Niño e La Niña resultantes do aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico tropical.
As correntes oceânicas também estão mudando, particularmente no Oceano Antártico. As águas profundas, normalmente mais frias, aqueceram-se nos últimos anos, o que fez diminuir a salinidade. Essas alterações desempenham um papel crítico nas correntes oceânicas modificando o transporte de calor e afetando, em última instância o clima de todo o planeta.
Oceano mais ácido
Outro sério impacto do aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera é a acidificação dos oceanos. Cerca de um quarto do dióxido de carbono é absorvido pelos oceanos. Ao se dissolver na água do mar, ele forma ácido carbônico, que torna o oceano mais ácido. Indicações iniciais dão conta de que muitos organismos marinhos já estão desaparecendo devido à essa acidificação.
Muitas espécies marinhas incrustantes, com baixa ou nenhuma mobilidade, sobrevivem em habitats específicos com faixas de temperatura restritas. Esse é o caso por exemplo, dos corais formadores de recifes que servem de alimento a uma vasta gama de peixes. Como não se locomovem, eventuais mudanças nas condições das águas geram um impacto significativo em suas populações. Para organismos marinhos que formam estruturas calcárias, como moluscos e também os corais, a acidificação interfere no metabolismo de suas partes duras dificultando a precipitação dos minerais de que necessitam para formas seus esqueletos.

Eventos extremos
Eventos meteorológicos e climáticos extremos têm sérios impactos na economia, na sociedade e no ambiente. Eles incluem: ondas de frio e de calor, incêndios florestais, ciclones tropicais, chuvas extremas, inundações repentinas e secas.
Evidências indicam que a frequência e a intensidade de vários eventos climáticos extremos estão aumentando bem acima da média. Incêndios florestais por exemplo, já devastaram extensas áreas do território brasileiro assim como no hemisfério norte. As condições favoráveis à sua ocorrência, seja de origens antropogênicas ou naturais, aumentaram 60 vezes somente devido às mudanças climáticas. A compreensão das causas dos eventos extremos nos ajuda a entender melhor e planejar os impactos futuros sobre as populações humanas, buscando formas de minimizar o efeito estufa.
O ciclo da água por exemplo, está ficando mais veloz com o aquecimento global. Isso significa que as áreas úmidas provavelmente ficarão ainda mais úmidas e que as regiões secas provavelmente ficarão ainda mais secas como resposta às mudanças climáticas.
O papel da vegetação no combate ao efeito estufa
As árvores e outras plantas absorvem dióxido de carbono do ar à medida que crescem. Usando a luz solar, eles convertem o carbono capturado em biomassa vegetal. Quando essa biomassa apodrece ou é queimada, grande parte do carbono armazenado é liberado novamente para a atmosfera. Em outras palavras, no contexto das mudanças climáticas, florestas maduras constituem enormes reservatórios de carbono armazenado. Se ela é queimada ou limpa, grande parte desse carbono é liberado de volta para a atmosfera, aumentando os níveis atmosféricos de dióxido de carbono.
O desmatamento, especialmente a destruição das florestas tropicais, é um fator decisivo para as mudanças climáticas. Estimativas indicam que a perda florestal, além de outras mudanças no uso da terra, é responsável por cerca de 23% das atuais emissões de dióxido de carbono antropogênicas, o que equivale a 17% do impacto de todas as emissões atuais de gases de efeito estufa.

O papel das florestas
O mesmo processo também funciona de modo inverso. Se as árvores forem plantadas onde antes não existiam, elas absorverão dióxido de carbono durante seu crescimento, reduzindo drasticamente a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. Acredita-se que árvores, plantas e outros “sumidouros de carbono” absorvam mais de um quarto de todo o dióxido de carbono que os humanos adicionam ao ar a cada ano.
As florestas também impactam significativamente os sistemas climáticos locais, além de afetar a quantidade de energia solar absorvida pelo planeta. Uma porção de floresta reduz a temperatura local devido ao dossel (folhagem), escurece a superfície do solo e reduz a quantidade de energia refletida.
Por isso a neutralização de carbono é um processo importante para que haja compensação nas emissões geradas pelas atividades humanas. O reflorestamento representado pelo plantio de uma árvore, ajuda a impedir o agravamento do efeito estufa de um modo simples e eficaz.
*Ophelis de A. Françoso Jr
Biólogo, mestre em Zoologia e doutor em Fisiologia pelo Instituto de Biociências da USP. Ex-bolsista Capes (Ministério da Educação) na Universidade da Califórnia Santa Bárbara. Ex-professor da Universidade Mackenzie, da Universidade de Garulhos, da Universidade Santo Amaro e da Fundação Instituto de Ensino para Osasco. Editor Executivo, autor de textos em diversas obras de Biologia para Ensino Médio e tradutor.
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