Como e por que o mercado financeiro se aproximou da sustentabilidade com a NGFS
*Evilázio Magalhães Júnior
Você já ouviu falar em NGFS (Greening the Financial System)? Cada vez mais crescente no mundo, melhores práticas são discutidas entre vários líderes de países do Planeta a fim contribuir para o desenvolvimento do meio ambiente e da gestão do risco climático no setor financeiro. Mas como essa discussão é recente, é importante contextualizar este tema.
Há muito tempo existem bancos, que desde o início da história do homem evoluíram exponencialmente. Os primeiros registros de instituições financeiras inclusive remetem a época da Bíblia. Hoje há, além de bancos, fintechs, cooperativas de créditos, seguradoras e afins. E quando falamos de mercado financeiro, a primeira imagem que vem à cabeça é o capitalismo selvagem, predador, onde poupadores e tomadores de dinheiro se encontram, através de uma instituição que administra essa relação, ofertando produtos e serviços, que são necessários na vida de qualquer pessoa ou empresa.
As crises americanas
Quando olhamos os últimos 100 anos é fácil compreender o pensamento da maioria das pessoas que veem o mercado financeiro como um animal selvagem. Não à toa, ocorreram duas crises de proporções oceânicas: a do ano de 1929 e a de 2007-2008. Conhecida como ‘’A grande depressão’’ na crise de 1929, mais de 16 milhões de ações foram vendidas, o que afundou a bolsa de Nova York, destruindo riquezas, deixando em situação precária a vida de várias pessoas, que já não tinham um grande capital.

Inclusive, devido ao desastre de 1929, a legislação da bolsa foi modificada e em 1934 nasceu a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC – Securities ans Exchange Commission), fundada pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt, em 6 de junho de 1934, órgão encarregado de supervisionar os mercados do país.
Já entre 2007-2008, ocorreu a crise conhecida como “A grande recessão’’, e os Estados Unidos sofreram novamente. Consequência de um relaxamento em avaliação de risco, eclodiu a bolha imobiliária, levando a falência do tradicional banco de investimento dos Estados Unidos Lehman Brothers, fundado em 1850, e revelando que os bancos tinham estendido hipotecas “lixo”, conhecidas com “subprimes“, a pessoas sem capacidade financeira, que tinham expectativa que os preços dos imóveis seguissem valorizando. O resto da história você já conhece. Naturalmente portando, é difícil pensar no mercado financeiro e lembrar de sustentabilidade.
Sustentabilidade é necessária
Considerada oposta ao mercado financeiro, a sustentabilidade possui várias definições, mas a mais clássica é uma característica ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. Ou, se preferir, sustentabilidade deve ser perene, um princípio segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. É um termo antigo, disseminado no ensino fundamental, momento em que temos o primeiro contato aprendendo a importância da sustentabilidade para o mundo, seja qual contexto esteja inserido. Mais tarde, na fase adulta, voltamos a encontrar a sustentabilidade, em qualquer trabalho em que estamos envolvidos.

Parece que os dois termos, sustentabilidade e mercado financeiro, estão tão distantes que é quase impossível de imaginá-los juntos. Porém, em setembro de 2017, em Paris, foi criada uma rede para tornar o sistema financeiro mais ecológico. Vários países se uniram para formar uma rede de 83 bancos centrais e supervisores financeiros a fim de acelerar a ampliação das finanças verdes e desenvolver recomendações para o papel dos bancos centrais nas mudanças climáticas.
NGFS: aposta para o futuro
Batizado como Greening the Financial System (NGFS) ou Rede para Ecologizar o Sistema Financeiro, o programa visa mobilizar as finanças tradicionais para apoiar a transição para uma economia sustentável. Para se ter uma ideia da importância do tema, no relatório anual do NGFS, postado em março deste ano, destaca-se que, diferente da pandemia, ainda não é possível enxergar uma luz no fim do túnel quando o assunto são as mudanças climáticas, reforçando a importância da ameaça à nossa prosperidade e bem-estar coletivo.

O relatório “Adaptando as operações do Banco Central a um mundo mais quente’’ coloca uma lupa nas implicações das mudanças climáticas e na implementação da política monetária. Resumidamente, foram discutidas políticas de garantias e contrapartes, compras de ativos e operações de crédito, com o objetivo de oferecer um menu de opções para ajustes relacionados ao clima em termos mais concretos. A NGFS emite essas recomendações, que apesar de não serem obrigatórias, são destinadas a inspirar Bancos Centrais e demais atores envolvidos a tomarem as medidas necessárias para fomentarem um sistema financeiro mais verde.
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Brasil no NGFS
O Brasil é signatário da rede e também está alinhado com o programa conhecido como Agenda BC#, que entre vários temas, um deles tem destaque para a sustentabilidade, deixando claro a responsabilidade socioambiental do Banco Central do Brasil, que possui como cerne a produção de energia limpa envolvendo vários agentes do mercado financeiro.
Possuir uma entidade supervisora e reguladora do sistema financeiro deixa evidente a importância de temas socioambientais na supervisão financeira.
A importância do tema risco climático nos faz pensar em unir o mercado financeiro na luta por uma economia mais verde, esperada por todos. Para o bem das pessoas, da sociedade e do mercado financeiro é preciso avançar muito no cuidado com a sustentabilidade.
*Evilázio Magalhães Júnior
CEA, Certificação Especialista em Investimento ANBIMA, MBA em Gestão Empresarial pela FGV
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