As minhocas deixam túneis, facilitando a respiração das raízes das plantas em crescimento
*Viviane Hamoui Furquim
Por muito tempo, o comércio de minhocas esteve direcionado apenas para pescadores, que as utilizavam como isca. Trata-se de um animal que pode ser encontrado facilmente em vários tipos de solo, relativamente bem adaptado ao clima tropical e de ampla distribuição.
Essas características as tornam animais de fácil obtenção. Ademais, são bem aceitas pela ictiofauna (o conjunto de peixes de uma região ou ambiente) de dieta predominantemente carnívora.
Um dos efeitos decorrentes da presença das minhocas no solo é o aumento da fertilidade devido à produção do húmus. Elas ingerem partículas orgânicas dispersas no solo misturadas em meio aos constituintes minerais. Parte do material orgânico é digerido pelas enzimas intestinais e o que sobra, forma as fezes que, ao serem eliminadas, servem de substrato para as populações de micro-organismos decompositores.

Estes, por sua vez, aceleram o processo de humificação, ou seja, a transformação de moléculas orgânicas complexas em substâncias simples, que podem ser facilmente absorvidas pelos vegetais. Por isso, as minhocas são capazes de acelerar a fertilização natural do solo, tornando-o bem mais produtivo para a agricultura.
Além desse efeito humificador, a atividade locomotora das minhocas deixa túneis por onde o oxigênio se difunde melhor, facilitando a respiração das raízes das plantas em crescimento. Trata-se assim, de um verdadeiro “arado vivo”.
Minhocas: contribuindo com a produção vegetal
Em estado natural, considerando-se a média dos tipos de solos, as populações de minhocas não são suficientemente grandes para produzir húmus em larga escala. Por isso, o desenvolvimento da minhocultura, associada às demais atividades agrícolas humanas, tem possibilitado um aumento significativo na produção vegetal, com impactos muito positivos na sustentabilidade ambiental.

Assim, a minhocultura é altamente indicada para hortas, estufas, agricultura orgânica entre outras, não somente devido aos custos relativamente baixos para a implantação dos sistemas de criação, mas também devido à elevada sinergia que ela estabelece com essas atividades.
De modo geral, todas as famílias de minhocas possuem espécies que desempenham importantes papéis na fertilização do solo e, por conseguinte, influenciam sua classificação geológica.
Mas, para criação, são mais utilizadas as espécies Eisenia foetida e Eisenia andrei, ambas conhecidas como minhocas vermelhas da Califórnia. Devido à alta taxa reprodutiva e fácil obtenção, elas são muito procuradas pelos criadores.

As minhocas são hermafroditas. Apesar de produzirem tanto os gametas femininos como os masculinos elas somente se reproduzem por fecundação cruzada, mediante o emparelhamento de dois indivíduos. Após a fecundação, os ovos são postos dentro de cápsulas deixadas no solo. Essas cápsulas são erroneamente chamadas de casulos, cuja forma e função é totalmente diferente. O gênero Eisenia (minhoca californiana) deposita cápsulas, cujas cores variam entre tons esbranquiçados e esverdeados, das quais podem emergir entre 3 a 6 indivíduos. O gênero Pontoscolex por sua vez, forma apenas um ovo por cápsula, de tonalidades brancas e avermelhadas (exemplo da foto acima). Suas cápsulas ficam aderidas aos grãos de terra por meio de fios de muco.
Compostagem com minhocas
Ademais, como decorrência das práticas sustentáveis, a minhocultura e a vermicompostagem vêm se tornando relativamente popularizadas independentemente do volume de terra movimentada, tanto em áreas domésticas como as de vocação rural. De fato, dependendo do que se pretende, o material necessário é de fácil obtenção, de baixo custo, e os procedimentos e fundamentos envolvidos, são relativamente acessíveis.
Outra decorrência da minhocultura é o aproveitamento dos resíduos orgânicos e biodegradáveis resultantes do lixo domiciliar, como: cascas e restos de vegetais, legumes, frutas, pó de café, entre outros, chegando até mesmo a resíduos de papel.

Ao destinar esses dejetos para a minhocultura, reduzimos significativamente o volume do lixo domiciliar que geralmente termina nos lixões e aterros sanitários, que provocam severos danos à saúde pública devido a superlotação desses espaços.
Note-se que a maior parte do lixo doméstico – por volta de 60% – é de natureza orgânica. Isso torna evidente que haverá um eminente colapso de espaços destinados aos aterros sanitários que, ademais, provocam um substancial incremento na emissão de gases de efeito estufa, agravando os efeitos do aquecimento global.
Efeitos sociais e econômicos
Ao remover o lixo orgânico em sua origem e destiná-los à minhocultura, o material remanescente, além de ter seu volume reduzido, segue mais “limpo” para a coleta seletiva, alcançando assim melhores preços no mercado da reciclagem.
Dessa forma, podemos constatar que a minhocultura, ainda que de forma indireta, impacta positivamente na vida das pessoas ao formar um tripé de cuidados frente às necessidades humanas sociais, econômicas e ambientais. Nesse contexto, o desenvolvimento social pode e deve servir aos desígnios econômicos, porém, tratando o meio ambiente de forma sustentável.

quando o lixo orgânico é separado
Não é de se admirar, portanto, que a minhocultura venha ao encontro dos anseios de uma sociedade cada vez mais consciente dos impactos que causa no meio ambiente, notadamente sobre o destino do lixo que gera.
Adubo verde
Finalmente, a criação de minhocas certamente perpetra um efeito mais do que desejável nas crianças, adolescentes e jovens, que é a educação ambiental. É provável que, ao se tornarem adultas, elas “naturalizem” essas práticas, tornando cada residência, uma verdadeira fonte de adubo verde, colaborando assim para renovar o ar que respiramos. Esse é o desafio que abraçamos e para o qual estamos te convidando.
Saiba mais aqui: As minhocas e o meio ambiente
Referências:
Sociedade Nacional de Agricultura: www.sna.agr.br
Olivier Soubeyran, Vincent BERDOULAY, Ecologia urbana e planejamento urbano: os fundamentos das questões atuais, 2010
GONÇALVES, P. A Reciclagem Integradora dos Aspectos Ambientais, Sociais e Econômico. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2003. www.lixo.com.br
VIMIEIRO, G.V. Tese de Doutorado:
“Usinas de triagem e compostagem: valoração de resíduos e de pessoas – um estudo sobre a operação e os funcionários de unidades de Minas Gerais”. Belo Horizonte, 2012, Escola de Engenharia da UFMG. 464p. http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/ENGD-93RHNE/tese___gisele_vimieiro___vers_o_final.pdf?sequence=1
*Viviane Hamoui Furquim
Bióloga e Mestre em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
Foto da Capa: Erika Buchignani, Bióloga
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Muito bom!
Informaçoes valiosas..!
Muito importante a atuação das minhocas para a qualidade do solo de forma geral; essenciais para a agricultura!
Parabéns Viviane, excelente artigo!
Trabalham humildemente em silêncio sem fazer propaganda do que fazem, mas os benefícios aparecem.
Trabalham em silêncio, sem propaganda ou críticas, humildes no subsolo da Terra, enquanto na superfície, políticos fazem discursos que não cumprem.