A cultura de celulose vem se expandindo de forma acelerada no interior paulista. A celulose, primariamente, tinha como finalidade a fabricação de papéis. Porém, vem sido utilizada para fabricação de laminados, produtos químicos e bioenergia, por exemplo.

No Brasil, com seu vasto território, amplos recursos naturais e terras a preços convidativos, criou-se um cenário perfeito no qual empresas globais estão adquirindo e arrendando terras pelo pais e por todo o interior paulista, o que está causando a eliminação de diversas culturas – principalmente o café – de forma acelerada.
Celulose x Café
Hoje em dia, a produção de celulose é tão eficiente que são possíveis 3 cortes do eucalipto, um a cada 7 anos. As plantas industriais operam 24 horas por dia em 3 turnos e – pasmem – mais de 65% de toda a energia consumida pelo setor é auto gerada no processo de produção de celulose, através da queima do licor negro, que produz vapor. Esse tipo de monocultura, comparada a outras, possui uma quantidade ínfima de geração de postos de trabalho.

desafios e avanços que as monoculturas impõem ao meio ambiente
Já na produção do café podemos observar que existe uma enorme geração de empregos como produtores de mudas, engenheiros agrícolas, revendas de insumos, revendas de máquinas e tratores agrícolas, mecânicos, empresas de crédito e financiamento, corretores, ‘saqueiros’ (trabalhadores que carregam e descarregam sacas de café), beneficiadores, torrefadores, cooperativas, armazéns, entre outros. A quantidade de envolvidos na cadeia e, consequentemente, mão de obra é de extrema relevância para a qualidade de vida das famílias da região.

situação do setor produtivo do eucalipto, os benefícios e os impactos gerados
Êxodo rural
Outro ponto socioeconômico preocupante é o êxodo rural, pois não será mais necessária a presença de mão de obra fixa na fazenda, já que trata-se de uma cultura de longo prazo e que pode ter a mão de obra envolvida em sua retirada vinda de outra região. Essa fuga de pessoas, que antes vivia no campo, gera problemas de desemprego, habitação, saneamento e segurança nas cidades e estas não estão preparadas para tal aumento de população urbana sem o devido planejamento.

“Atualmente, há 7,74 milhões de hectares de árvores plantadas, sendo 34% destinadas a produção de celulose e papel. O Brasil é o quarto maior produtor de celulose do mundo. E a demanda segue aquecida, principalmente na China e Europa, que são os principais mercados de destino. Em 1995, por exemplo, eram produzidos 6.201 mil de toneladas de celulose. Já no ano de 2017, foram produzidos 19.492 mil toneladas, para quantificar o tamanho do crescimento desse mercado. Da produção nacional, 70% foram exportados para outros países. Esses números justificam os vultosos investimentos que algumas empresas estão fazendo no país.”
Evilázio Magalhães Júnior / CEA, Certificação Especialista em Investimento ANBIMA, MBA em Gestão Empresarial pela FGV
Leia também outro artigo de Evilázio: Cooperativismo e Sustentabilidade
Impacto ambiental da celulose
No que tange ao aspecto ambiental, é evidente que com a monocultura teremos consequências em nossa fauna e também nos rios, pois o eucalipto tende a retirar água em excesso de lençóis freáticos, provocando em muitos casos a desertificação do local. Como exemplo disso podemos citar estudo realizado pela geógrafa Daniela Meirelles Dias de Carvalho da FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional do estado do Espírito Santo, organização não-governamental que atua na área sócio-ambiental, apontando que depois que o eucalipto foi introduzido na região norte do estado já secaram mais de 130 córregos.

nativas é a proteção de represas, nascentes e rios
Além disso o termo ‘deserto verde’ aplica-se também ao cultivo em massa de árvores para a produção de celulose, deixando o local inóspito para a sobrevivência de praticamente nenhum ser vivo, excetuando-se formigas e outros insetos, levando o solo a exaustão por ficar exposto, causando em muitos casos a erosão.
Fazendo a diferença
Não devemos cobrar do Estado ou boicotar tais empresas que estão investindo em nossa região. Porém, espero que os pequenos produtores das diversas culturas se unam, como já vem acontecendo com o café na cidade de Garça, interior do estado de São Paulo, que vem desenvolvendo projetos de valorização com o resgate histórico dos cafés da região, envolvendo produtores e a sociedade para somar forças, inovando e agregando valor a seus produtos, permanecendo ativos em suas propriedades, promovendo sustento e desenvolvimento.

para a manutenção de empregos nas propriedades, evitando o êxodo rural
Para evitar o desemprego e a falta de recursos, empresas de celulose deveriam descentralizar e diversificar suas operações, pois os municípios menores e toda a sua população dependem há muito tempo das tradicionais culturas.
Preocupação local, problema global
A perda acelerada da biodiversidade está ligada ao desmatamento das florestas nativas para plantio de monoculturas, ao grave problema do micro plástico nos oceanos, além de muitos outros fatores, que estão afetando o clima do planeta, gerando fortes tempestades, furações, queimadas e o aumento do nível do mar.

Muitos destes assuntos estão sendo discutidos na COP 25 (Conferência do Clima da ONU). Participam mais de 28 mil pessoas, de quase 200 países. O evento ocorre de 2 a 13 de dezembro com o tema Time for Action ou “Hora da Ação”.
Um dos temas da conferência é sobre o mercado de créditos de carbono que atualmente necessita de acordos entre governos e as empresas, que ainda não foi homologado. Está sendo discutido um valor em torno de mais de US$ 100 bilhões, que fomentarão iniciativas de financiamento entre os países, para que ocorra a diminuição de Gases de Efeito Estufa.
Tudo o que podemos fazer para minimizar os impactos sobre o clima, faz a diferença para todos, atraindo a atenção dos jovens, cada vez mais preocupados com um futuro melhor.
Luiz Guilherme Guimarães é consultor de empresas e desenvolvimento de softwares ERP’s, contador e palestrante
Compense suas emissões
A Ecooar apoia e incentiva empresas e pessoas para que realizem ações de sustentabilidade, através do plantio de árvores, preservação de nascentes e também da fauna e flora de cada região. Ao plantar uma árvore, o CO² é retido durante o seu crescimento auxiliando no combate ao aquecimento global.
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Fotos: Equipe Ecooar