O café brasileiro é reconhecidamente sustentável, no âmbito dos pilares social, econômico e ambiental
*Marcos Matos e Lilian Vendrametto
O Cecafé, como legítimo representante do setor exportador do café brasileiro, realiza diversas ações sustentáveis, com racionalidade, junto ao cafeicultor e demais segmentos, que visam ao interesse nacional.
Em sua missão de promoção da imagem e da comunicação voltadas à sustentabilidade do café do Brasil, o setor tem o compromisso de divulgar todas as ações desenvolvidas, informando as boas iniciativas da agricultura nacional, as melhores práticas de sustentabilidade nos processos produtivos e as interações entre agricultura e meio ambiente.
Na sociedade atual, os debates sobre as questões ambientais e a relação entre o meio ambiente e a agricultura se tornam mais relevantes e alicerçados na ciência.
Agentes polinizadores do café e outras culturas
Nesse contexto, vale destacar a importância dos serviços ambientais ou ecossistêmicos. Dentre eles, o benefício executado pelos polinizadores é extremamente valioso para o ecossistema, permitindo o transporte de pólen, transferindo-o da parte masculina para a feminina da flor.
Ela pode ser realizada por diversos agentes polinizadores, como aves, abelhas, borboletas, vespas e outros seres vivos, os quais visitam flores como fonte de alimento ou que as acessam pela proximidade com o habitat natural.
A polinização traz inúmeros benefícios através do seu papel no agronegócio, na produção de alimentos, no desenvolvimento científico, cultural e reprodutivo e na conservação da diversidade biológica.

são dependentes da polinização, inclusive o café
Ela é considerada essencial para a reprodução sexuada das plantas e, na sua ausência, a manutenção da variabilidade genética entre os vegetais não ocorre. Frequentemente, a produção agrícola é diminuída ou os frutos são deformados (resultado da polinização insuficiente).
Em se tratando de sistemas naturais, a polinização insuficiente pode ter consequências bastante severas, como a extinção de um organismo herbáceo ou a fraca regeneração da flora, entre inúmeros outros.
Aproximadamente 90% das espécies de flores em todo o mundo são dependentes da polinização biótica para reprodução e manutenção da variabilidade genética.
Diversos cultivos agrícolas podem ser citados como dependentes da polinização biótica, como o café, a canola, a soja, o morangueiro, o tomateiro, entre outros.
A polinização não é obrigatória, porém, na presença de polinizadores, observa-se aumento da produtividade e da qualidade das culturas agrícolas. Segundo pesquisas aplicadas à interação dos polinizadores e a agricultura, os frutos polinizados têm mais sementes, maior homogeneidade de frutos, formato mais uniforme, maior valor nutritivo e vida de prateleira mais longa.
Café sustentável
O café brasileiro é reconhecidamente sustentável, no âmbito dos pilares social, econômico e ambiental. Somado a isso, a cultura demonstra ser possível conciliar produção agrícola e conservação da biodiversidade.
Na live “Mulheres no agronegócio sustentável por meio do processo de polinização com abelhas”, realizada pela Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel), no dia 6 de agosto, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, destacou que a polinização é um bioinsumo e que há espaços para pesquisas e inovações neste segmento.

Algumas iniciativas de produção de mel dentro de áreas cultivadas com café têm sido verificadas no país e vem sendo observadas por diversos consumidores e produtores. Nota-se um potencial de mercado a ser desenvolvido, tanto do lado dos produtores, por meio da observação do aumento de produtividade e qualidade, quanto dos consumidores, dadas as características organolépticas diferenciadas que podem ser percebidas nos produtos melíferos, entre elas os produtos como méis e seus derivados.
Dados mencionados pela Abemel apontam que lavouras de café que receberam polinização assistida e inteligente promovida pela startup Agrobee, na safra 2019/20, registraram aumento de 20% na produtividade. Há, também, a possibilidade de uma maior interação entre produtores de mel e cafeicultores, que podem, por exemplo, alugar suas colmeias temporariamente aos agricultores, como já acontece com produtores de maçã.
Segundo números do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil, fruto da parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador, a intervenção de polinizadores em cultivos de café possibilita um aumento de 30% no rendimento desse cultivo, além de trazer outros benefícios.
Frutos melhores
Estudos anteriores demonstraram que o fruto do café pode apresentar aumento considerável no tamanho com a polinização por abelhas. Os grãos visitados por abelhas apresentaram tamanho 1,22 vez maior do que os frutos nos quais a visita das abelhas foi isolada. Também foi detectado que as abelhas melíferas foram os principais insetos polinizadores a visitar as flores do café.
Nota-se, dessa maneira, que a presença de polinizadores, como as abelhas, garante que haja uma maior produtividade e qualidade dos grãos, atendendo à demanda do mercado.

Diante do cenário apresentado, ainda há grandes oportunidades pela frente e, para continuar a avançar nesta vanguarda, será fundamental ampliar os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), bem como no fortalecimento de programas de sustentabilidade, difundindo cada vez mais as boas práticas aos produtores de todos os portes, tornando a cadeia nacional cada vez mais forte, de maneira a ampliar, continuamente, sua participação no mercado global.
O Cecafé continuará seguindo a sua missão de trilhar o caminho certo para um futuro cada vez mais sustentável e socialmente responsável.
* Marcos Matos é Diretor Geral e Lilian Vendrametto é Gestora de Sustentabilidade do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
Estudos mencionados:
Amaral, E. (1972). Produção de café na ausência e na presença de insetos polinizadores. Paper presented at the Anais do 2º Congresso Brasileiro de Apicultura, Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil.
De Marco Júnior, P. & Coelho, F. M. (2008). A polinização como um serviço do ecossistema: uma estratégia econômica para a conservação. Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Klein, A. M., Steffan‐Dewenter, I. & Tscharntke, T. (2003a). Bee pollination and fruit set of Coffea arabica and C. canephora (Rubiaceae). American Journal of Botany, 90(1):153-157.
Revisão: Paulo André Kawasaki (Mtb. 43.776/SP)
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