Entenda o conceito de Biofilia.
Nenhuma circunstância justifica destruir o legado natural da terra. Edward Osborne Wilson
Verde é cor associada à vida. Flora e fauna, a vida que a natureza levou milhões de anos para produzir. Que abelha sobreviverá em meio a tantos pesticidas? E que frutinha do mato resistirá à depredação insensível? Penso naquela senhora, naquele homem do povo, eles que se encantam com árvores, ervas e passarinhos, embora haja tantas contas a pagar.
Valores proambientais
A vida é indefinível se pensada em termos de cifras da economia: Cataratas do Iguaçu, juçara da Mata Atlântica, mangaba do Cerrado, praias limpas, bichos que nunca vimos, mas que sabemos que existem para dar significado ao nosso mundo.
Não é idealização, nem boniteza. É instinto de sobrevivência: nossa afinidade com a natureza pode servir de base para nossos hábitos cotidianos – cuidar do próprio lixo, conservar o parque que frequentamos nos fins de semana, recusar o plástico, estar empenhado em desaprender ações antiambientais.
Se nós, seres humanos, somos conhecidos como destruidores do meio ambiente, de outro lado, é relevante fomentar estilos de vida que favoreçam um equilíbrio entre sociedade e natureza.

Perto de um vaso de bromélia, vi esses dias uma cambacica baixar voo e desaparecer feliz no emaranhado das folhas. Esse passarinho me fez refletir sobre o quanto as cidades estão povoadas de animaizinhos, esperanças que vão renascendo e exigindo nossa atenção.
Biofilia, proximidade com a natureza
A biofilia, a orientação dos humanos para o mundo vivo e seus seres e elementos, é essencial para o processo de humanização das pessoas. E se há muita gente ainda negligente do ponto de vista ambiental, através da autoeducação, qualquer pessoa se torna capaz de filiar-se justamente à natureza: reutilização de materiais, utilização parcimoniosa da água, denúncias ambientais, evitar o consumo de descartáveis, consertar vazamentos em tubulações, repensar hábitos de consumo etc., e por meio de uma apreciação ecológica.
“Cajuzinho quem quiser, é só ir buscar na serra…”, trecho da música ‘Frutos da Terra’, de Marcelo Barra
Dona Augusta é uma senhora de 70 anos e bastante ativa. Seus pais não eram preocupados com a conservação da flora. Na sua época de escola, ela aprendeu pouco sobre a interação ser humano-natureza. Adulta, por temor à sua condição cardíaca, fez um curso de agroecologia e passou a se interessar sobre alimentação saudável. Abraçando um conhecimento ecologicamente correto, começou a plantar em seu quintal plantas para compor sua dieta, confirmando que, muitas vezes, é a falta de oportunidade de aprender sobre o mundo natural, e em cenários não-escolares, que faz com que muita gente madura continue imatura do ponto de vista ambiental.
A consciência ecológica nunca se fez tão urgente
Sem dúvida, a preservação só será possível com a difusão de uma educação ambiental que promova a inclusão de pessoas de todas as idades – e envolvendo setores diversos da sociedade. Então, chegará um tempo no Brasil em que as pessoas não levarão à mesa somente uva, maçã, alface, mas também uvaia, cambuci, almeirão silvestre, caruru, serralha, manjerona…
Assim como a educação ambiental é intrínseca à vida escolar na infância, para os adultos também é essencial estar consciente de que há uma clara relação entre nossas ações e o benefício do planeta.

Efetivamente temos problemas sérios com o meio ambiente, mas a parte positiva é que todos podemos contribuir com nossas ações rotineiras – o que podemos, por exemplo, cultivar em nosso quintal? Mudas de açafrão da terra, bertalha, capuchinha… Parte da colheita pode ser servida à mesa em saladas, refogados, sopas, e aprovada pelos filhos, vizinhos, pois nunca é tarde para aprender nem para interagir de um modo mais equilibrado e harmônico com a natureza.
E você, leitor, no dia a dia põe em prática atitudes proambientais?
Notinhas
Comportamento proambiental implica a interação ser humano-ambiente. Assim, qualquer ação humana que visa contribuir para proteger o meio ambiente ou para minimizar o impacto ambiental de outras atividades, pode ser considerado proambiental ou ecológico. Exemplo: o indivíduo que utiliza uma bicicleta para o seu transporte para evitar o consumo de combustíveis fósseis dos automóveis, é capaz de gerar um impacto ambiental positivo no meio….
Biofilia
Biofilia é a noção de que os seres humanos possuem uma tendência inata de buscar estar sempre próximo à natureza. Literalmente, biofilia significa ‘amor às coisas vivas’ (do grego (philia = amor à/inclinação para) e foi utilizado pela primeira vez neste contexto pelo psicanalista Erich Fromm em seu livro The Anatomy of Human Destructivity (1973), descrevendo a biofilia como “o amor à vida e por tudo aquilo que é vivo.” O termo foi reafirmado mais tarde pelo biólogo americano Edward O. Wilson em seu trabalho Biophilia (1984). Ele considera que os seres humanos possuem uma tendência genética de buscar conexões e estarem próximos da natureza e outras formas de vida. Cf. Kellert, S.; Wilson, E. (Orgs.). The biophilia hypothesis. Washington: Island Press, 1993.

No geral, os adultos desconectados do mundo natural, que não se importam muito com sua preservação, tiveram uma infância de distanciamento da natureza. Redescobrir e realizar experiências diretas com a natureza – fazer trilhas, cuidar de animais, colher frutos etc. – podem tanto despertar o apego à natureza como motivar o comportamento proambiental adulto.
Na vida adulta, a participação em atividades de jardinagem, hortas comunitárias, projetos locais a cargo de universidades ou trabalhos voluntários que envolvam causas ecológicas e cidadãs, por exemplo, são vivências capazes de despertar tendências ambientalistas nas pessoas.
Cf. Dias, G. F. Antropoceno: iniciação à temática ambiental. SP: Gaia, 2016.
Eugênia Pickina
Escritora e educadora ambiental. Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP). Tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP). Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas do estado de São Paulo e do Paraná, onde vive.
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