As abelhas são essenciais para a produção de frutos e sementes; por isso devemos encontrar formas de protegê-las cada vez mais
*João Batista Vicentin Aguilar
O Brasil, país da biodiversidade, abriga mais de 1500 espécies de abelhas (confira material da Embrapa no final do artigo). A maioria são nativas, muitas delas solitárias, ou seja, não vivem em sociedade, ou colmeias, e talvez por isso sejam menos conhecidas.

Dentre as que vivem em sociedade, temos o grupo dos meliponíneos, as abelhas brasileiras sem ferrão, com mais de 300 espécies descritas, como jataí, mandaçaia, uruçu, entre outras; e também algumas espécies de mamamgabas, ou mamangavas. Porém, quando se fala em abelhas, a imagem que vem à mente da maioria das pessoas é a Apis melífera, a abelha de origem europeia ou africana, introduzida e muito bem adaptada em nosso território.
A importância das abelhas
Solitárias ou sociais, nativas ou não, as abelhas desempenham papel importante na polinização das plantas, sendo fundamentais para a produção de frutos e sementes e para a reprodução vegetal. Atuando na base das cadeias alimentares, garantem o alimento de herbívoros e demais constituintes dos ecossistemas.
O ser humano não é exceção: já tivemos a oportunidade de comentar, nesse espaço, a importância das abelhas para a produção agrícola no artigo Muito além do mel, e para o sustento de milhares de famílias de apicultores que comercializam produtos como mel, própolis, pólen, geleia real e apitoxina.

Porém, as abelhas em geral sofrem, atualmente, sérias ameaças: o desmatamento e o uso indiscriminado de agrotóxicos – ou defensivos agrícolas – podem ser citados como as mais graves. Sobre o tema, publicamos aqui o artigo Sobre abelhas e humanos, acessível pelo link.
Abelhas ameaçadas
A criação racional de abelhas Apis, por outro lado, oferece condições para que uma outra ameaça esteja presente: parasitas e agentes causadores de doenças não apenas transportam-se facilmente por todo o planeta, um efeito da globalização, como encontram condições locais de disseminação em apiários muitas vezes superpopulosos, ou em ambientes degradados e desequilibrados. Dentre as principais pragas que afetam as abelhas Apis, podemos citar:
• o besouro Aethina tumida, que se alimenta de larvas e causa fermentação do mel e pólen estocado nas colmeias;
• ácaros do gênero Varroa, que se fixam ao corpo de abelhas adultas e sugam seus líquidos corporais, enfraquecendo-as e diminuindo sua longevidade e produtividade;
• as traças da cera, das espécies Galleria mellonella e Achroia grissella, alimentam-se de cera e larvas, enfraquecendo os ninhos;

Esses organismos, além dos prejuízos imediatos, podem ser vetores de microrganismos patogênicos, tais como:
• a bactéria Melissococcus plutonius, causadora da cria pútrida europeia, que infecta as larvas jovens causando sua morte;
• a bactéria Paenibacillus larvae, causadora da cria pútrida americana, infecta larvas em estado adiantado de desenvolvimento e é também fatal;
Apicultores experientes e conhecedores das boas técnicas apícolas sabem reconhecer os sinais das principais pragas, e como evitá-las. Campanhas de divulgação também são importantes meios de esclarecimento e combate a essas pragas. Pode-se citar, como exemplo, as iniciativas da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo (link do material) e de Santa Catarina (link do material), entre outras.
Qual a solução? Vacina!
Porém, em alguns casos, como a cria pútrida americana, também conhecida como loque americana, o tratamento é drástico e consiste na queima das colmeias e equipamentos infectados. Isso por que não há medicamento contra a bactéria, e seus esporos permanecem no ambiente por mais de 50 anos.

A boa notícia é que este cenário pode estar se alterando. Dalial Freitak e Heli Salmela, pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, são especialistas no sistema imunológico de insetos. Trabalhando com mariposas, descobriram que se uma fêmea fértil ingere alimento infectado por um agente patógeno, as crias mostram respostas imunes elevadas contra esse agente.
No caso das abelhas, os cientistas descobriram que o mecanismo imune envolve a participação de uma proteína chamada vitelogenina, que atua na formação dos ovos. Quando a abelha-rainha ingere alimento contaminado, a vitelogenina é ativada e transmite a informação de resposta imune aos ovos. Dessa forma, as crias nascem protegidas.

Essa descoberta levou ao aperfeiçoamento de uma vacina pela empresa norte-americana Dalan Animal Health. Células inativas da bactéria causadora da loque americana são inoculadas na geleia real, o alimento fornecido pelas operárias à abelha rainha. Esta, então, produz ovos capazes de gerar larvas imunes à bactéria. A USDA, agência norte americana reguladora das vacinas, autorizou seu uso inicialmente por dois anos, a partir de 2023.
A Dra. Annette Kleiser, pesquisadora chefe da Dalan Animal Health, acredita que a vacina é um avanço na proteção das abelhas, o que afetará beneficamente a produção de alimentos em escala global.
Para mais informações acesse o website da empresa:
https://www.dalan.com/product
*João Batista Vicentin Aguilar
Biólogo formado pelo Instituto de Biociências da USP (licenciatura e bacharelado)
Mestre em Ecologia e Doutor em Ciências pelo mesmo Instituto (área de concentração do doutorado: Ecologia de ecossistemas terrestres); os trabalhos de pós graduação foram feitos no Laboratório de Abelhas do IBUSP
Professor de Zoologia e Ecologia no ensino superior
Professor de Ciências e Biologia no ensino fundamental, médio e EJA
Autor de livros didáticos para o ensino fundamental e médio
Saiba mais sobre as abelhas brasileiras neste material da Embrapa
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